Conheça boas práticas no encunhamento de paredes de alvenaria

Publicado em 12 de abril de 2021 por



Ligação da alvenaria com a estrutura de concreto é etapa crítica exigindo o uso de argamassas específicas e execução cuidadosa

O encunhamento de paredes de alvenaria é um procedimento que consiste no fechamento do espaço remanescente entre a estrutura e a última fiada de blocos da elevação das paredes. Essa é uma região especialmente suscetível a manifestações patológicas como fissuras que comprometem a estanqueidade, o descolamento de revestimentos e, até mesmo, o esmagamento de blocos.

A retração da argamassa e a transmissão de esforços da estrutura para a alvenaria são fenômenos que explicam essas ocorrências. Por isso mesmo, o encunhamento requer o emprego de materiais e técnicas que garantam a absorção dos esforços e maximizem a aderência entre os diferentes materiais.

COMO EVITAR A PERDA DE DESEMPENHO?

As boas práticas na execução da última fiada da alvenaria começam com a elaboração de um projeto detalhado que traga, entre outras informações, a especificação de todos os materiais de construção necessários, incluindo traços indicativos de argamassas de assentamento e encunhamento

Cristiana Furlan Caporrino

“As boas práticas na execução da última fiada da alvenaria começam com a elaboração de um projeto detalhado que traga, entre outras informações, a especificação de todos os materiais de construção necessários, incluindo traços indicativos de argamassas de assentamento e encunhamento”, explica a engenheira Cristiana Furlan Caporrino.

Algumas obras utilizam para o encunhamento argamassa podre, ou seja, com baixo consumo de cimento e alto consumo de agregados, tipo 1:10 ou 1:12, traço em volume. Outra alternativa é aumentar a aderência, a impermeabilidade e a flexibilidade e diminuir a resistência à compressão por meio de materiais como o poliuretano ou poliestireno expandido.

“Para melhorar a aderência entre a argamassa expansiva e as partes de concreto da edificação, costuma-se usar o chapisco rolado, constituído de uma mistura seca em pó a base de cimento, polímero, agregados minerais e aditivos”, comenta Caporrino.

A execução do encunhamento acontece com o preenchimento da folga entre a viga e a alvenaria em toda a sua espessura com o material escolhido. Após a finalização da estrutura, é importante o retardamento máximo possível do início da execução do encunhamento, garantindo a livre movimentação inicial da estrutura.

Outra ação necessária é a realização do encunhamento de paredes de cima para baixo, iniciando no topo em descida para a base da edificação. Tal cuidado permite que os pavimentos inferiores absorvam as deformações da estrutura gradualmente.

LIMPEZA E ESPESSURA

O encunhamento deve ser realizado sobre superfícies limpas, sem partes soltas, pó em excesso ou óleos que atrapalhem a aderência. A aplicação dos produtos precisa ser feita sobre o substrato umedecido com equipamentos de projeção de argamassa ou por meio das bisnagas, garantindo uma camada espessa, uniforme e sem vazios.

De acordo com o engenheiro Renato Sahade, consultor em patologia de concreto e revestimentos, atenção especial deve ser dada ao espaçamento do encunhamento, que deve ser próximo de 3 cm abaixo da viga ou laje. Ele ressalta que blocos vazados e peças de diferentes alturas e dimensões muitas vezes são utilizados, transferindo esforços não previstos para as alvenarias e, consequentemente, para os revestimentos, gerando trincas, fissuras e infiltrações. “Por isso a recomendação é o uso de bloco compensador e de argamassa de baixa rigidez (baixo módulo) ou baixa resistência à compressão”, afirma o especialista.

RIGIDEZ X FLEXIBILIDADE

O refino do cálculo estrutural, bem como o avanço das resistências do concreto, exigiram da comunidade da construção uma revisão importante neste conceito, contemplando o uso de argamassas mais flexíveis e aderentes nesta região

Renato Sahade

Atualmente em vigor, a ABNT NBR 8545:1984 — Execução de alvenaria sem função estrutural aborda recomendações para o encunhamento. O texto afirma que “as alvenarias, em obras com estruturas em concreto armado, devem ser interrompidas abaixo de vigas e lajes e preenchidas de modo a garantir o perfeito travamento entre a alvenaria e a estrutura”.

“O problema é que à época da publicação dessa norma, as estruturas eram menos deformáveis, menos altas e com vãos de lajes e vigas menores”, compara Renato Sahade. “O refino do cálculo estrutural, bem como o avanço das resistências do concreto, exigiram da comunidade da construção uma revisão importante neste conceito, contemplando o uso de argamassas mais flexíveis e aderentes nesta região”, revela o engenheiro.

COLABORAÇÃO TÉCNICA

Renato Sahade — Engenheiro civil pós-graduado em materiais de construção pela Escola Politécnica da USP e mestre em Tecnologia de Construção de Edifícios pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo (IPT). Consultor há 27 anos em Patologia de Concreto e Revestimentos, é professor na Universidade Presbiteriana Mackenzie, palestrante e membro do Departamento Técnico de Patologia das Construções do Instituto de Engenharia de São Paulo.
Cristiana Furlan Caporrino — Engenheira civil, mestre em engenharia de estruturas pela Universidade de São Paulo (USP) e doutoranda na mesma área e instituição. Perita judicial, é sócia-diretora da Furlan Engenharia e Arquitetura e professora em cursos de graduação e pós-graduação.
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